Melhoria contínua e efetiva através do Hansei e Kaizen

Segundo as visões de Taiichi Ohno e Shingeo Shingo, que figuram como grandes pensadores do STP (Sistema Toyota de Produção ou TPS – Toyota Production System), um dos pontos chaves para a evolução desse sistema produtivo, é a prevenção às reincidências de problemas em qualquer nível do processo, para que seja possível alcançar um estado de melhoria contínua e efetiva sobre a forma de trabalho e acerca dos produtos desenvolvidos.

Para sustentar essa filosofia, o STP evidencia dois grandes elementos muito fortes da cultura oriental, que são o Hansei e Kaizen, que conforme mostro abaixo, apesar desses elementos serem benéficos isoladamente, sua sinergia quando juntos, torna-se essencial para a aplicação da melhoria contínua dentro do Pensamento Lean.

Vejamos então, o que é cada um desses elementos:

  • Hansei – É uma profunda auto-reflexão feita por um indivíduo ou por um time durante ou ao final de algum evento (projeto, atividade, entrega etc). Essa auto-reflexão visa acima de tudo identificar de maneira clara, quais as falhas ocorridas e o que precisa ser melhorado no processo ou no produto. 
    Um recurso bem interessante para ajudar nessa descoberta dos reais problemas, é buscar o entendimento da cadeia de causas e efeitos, através da aplicação de outra técnica do modelo Toyota chamada “Os 5 Porquês” (The 5 Whys), que consiste no questionamento recursivo de cada problema identificado, até que se alcance a real causa do mesmo.
  • Kaizen – É a aplicação contínua ou gradual da melhoria em algum ponto do processo ou do produto com base nos itens identificados durante o Hansei.
    Como durante o Hansei, é possível usar a técnica dos 5 Porquês, é interessante que a aplicação dessa melhoria durante o Kaizen, seja feita de fato na causa raiz do problema, evitando que seja criada uma solução paliativa apenas no sintoma (efeito) que está sendo visualizado, mas sim em sua origem (causa), o que de fato preveniria a reincidência do problema.

Veja que através desses dois elementos, temos uma base muito sólida, com muita sinergia histórica e prática para a aplicação do ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Action), nas atividades de Planejamento, Execução, Verificação e Ações corretivas ou preventivas dentro de projetos de desenvolvimento de produtos.

Dentro das metodologias ágeis, a idéia de inspeção e adaptação é capaz de representar a aplicação do conceito de Hansei e Kaizen em projetos de software. Inclusive em Extreme Programming, FDD ( Feature Driven Development) e Scrum, é de praxe haver atividades para retrospectivas,  inspeção e validação que oferecem um espaço interessante para aplicação do Hansei e outras atividades para planejamento, reuniões diárias e de comunicação visual, que facilitam a aplicação do Kaizen num processo de desenvolvimento.

É importante observar que o Hansei e o Kaizen estão muito ligados a filosofia dentro das organizações, principalmente gerando uma relação dialética entre o comportamento das partes com o todo, portanto claro que aplicar esses conceitos não é uma coisa simples de fazer, pois como expliquei outrora no artigo “Vencendo o Estado de Negação na Sprint Retrospective”, existem muitas características naturais ao comportamento humano que atuam como barreiras,  principalmente quando se deseja descobrir os reais problemas a serem resolvidos.

Porém, a aplicação desses dois conceitos de forma diária, em períodos curtos ou a cada entrega unitária de valor agregado ao cliente, traz imensos benefícios tangíveis e intangíveis dentro de uma organização, portanto, mesmo que a caminhada seja longa para aplicação total do Hansei e do Kaizen, lembre que precisamos dar um primeiro passo, portanto, experimente o mais breve possível esses conceitos através uma auto-reflexão para elencar em algum meio visual, os pontos que podem  melhorar, em seguida adicione a sua rotina o cuidado para melhorar o que foi identificado,  posteriormente tente aplicar isso de maneira sistemática em períodos curtos e você estará no caminho da melhoria contínua através da prática efetiva do Hansei  e do Kaizen.

 

Sobre o autor:

Manoel Pimentel, CSP
Manoel Pimentel, CSP

É Engenheiro de Software, com 15 anos na área de TI, atualmente trabalha como Coach em Agile, Lean e TOC para empresas do segmento de serviço, financeiro e bancário. É Diretor Editorial da Revista Visão Ágil e Editor Chefe da InfoQ Brasil, Já escreveu sobre agile para importantes portais e revistas do Brasil e exterior e Também palestrou em eventos nacionais e internacionais sobre agilidade. Possui as certificações CSM e CSP da Scrum Alliance e foi um dos pioneiros na utilização e divulgação de métodos ágeis no Brasil.

Contatos: manoel@visaoagil.com

 

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11 responses to “Melhoria contínua e efetiva através do Hansei e Kaizen”

  1. Bastante interessante o artigo. Um único ponto de atenção é que o gerente de projeto tem que atentar a difícil arte de identificar corretamente a causa e ser ágil na proposta do tratamento, evitando assim um preciosismo exagerado.

  2. Exatamente Alex,

    Devemos ter atenção sim, pois esse é o grande perigo de “inércia” gerada por esperar até que se ache a real causa raiz de um problema.

    Por isso que é interessante aplicar o Hansei e Kaizen sobre o feedback de curtos períodos (iterações), pois os problemas provavelmente serão menores.

    Grande Abraço.

  3. Ola Manoel,

    Parabéns pelo artigo, mais uma vez você soube escolher bem as palavras para não excluir nenhuma comunidade!

    Gostaria de ver uma discussão maior no Kaisen. Como trazer para o dia-a-dia a “aplicação contínua ou gradual da melhoria”. O Scrum fala do impediment backlog, acho também legal a idéia de uma lista “pública” de compromissos assumidos pela equipe em pró de melhorias.
    Que outras práticas poderíamos ter para realizar o Kaisen?

    []s,
    Rodrigo de Toledo

  4. […] Melhoria contínua e efetiva através do Hansei e Kaizen A frase título resume bem o Kaisen, que mais do que uma prática japonesa, é uma filosofia. Esta filosofia supõe que cada aspecto de nossa vida merece ser melhorado constantemente e difunde como conceitos base: qualidade, esforço, voluntariedade em mudar, comunicação e, para o âmbito corporativo, envolvimento de todos os empregados. No ocidente pensamos que melhorias e mudanças devem ser drásticas para gerar resultados, mas os orientais acreditam que apesar de pequenas e constantes, mesmo sendo fáceis e baratas de serem implementadas, podem gerar redução de custos, melhoria da qualidade, e/ou aumento da produtividade e eficiência. Kaisen é uma busca diária com o objetivo de melhorar. É um processo que quando bem implementado, humaniza o ambiente de trabalho, reduz o desperdício e estimula as pessoas a experimentar novas soluções. Apesar de ter iniciado após a Segunda Guerra Mundial, e ter como maior inspiração o sucesso no Sistema de Produção da Toyota, este modelo se mostra cada dia mais forte e atraente. Os agilistas têm difundido e incorporado estes princípios com sucesso em seus projetos. A cada sprint, temos a oportunidade de rever o que aconteceu, entender os erros e propor melhorias e experimentá-las já no novo sprint. De um modo geral, equipes auto-gerenciadas são mais maduras e preparadas para esta abordagem, e assim, contribuem com prazer, atingindo os objetivos já citados da melhoria contínua: redução de custos, melhoria da qualidade, e/ou aumento da produtividade e eficiência. Mesmo que em sua empresa estes conceitos não sejam institucionalizados, acho válido um teste pessoal, como um desafio. Existem tantos e tantos aspectos que nem vai ser difícil começar. A cada dia se pergunte: o que posso melhorar hoje? Boa sorte!! […]

  5. Parabéns, pelo artigo;
    Somente uma observação, o planejamento efetivo do processo é realizado através da ferramenta Hansei, e as ações são concretizadas com outra ferramenta o Kaizen, qual o período ideal para o desenvolvimento destes trabalhos?… podem ser trabalhadas sequencialmente?

  6. Ola Manoel.
    Eu coordeno grupos de melhorias, onde junto com os colabores, buscamos as melhorias constantes, desemvolvendo um trabalho continuo junto com outros setores como os de engenharias, que ferramenta se adequa de melhor para o funcionamento nesse caso.

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